quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
São José das Garruchas – Anti-hino
São José das Garruchas é o “ó”!
Oh, meu santo Pe. Macário tenha dó!
Falta pão, falta água, sobra pó
Pó da poeira das esquinas
Pó que incomoda as narinas
Pó que desvirtua as meninas
Pó, pó, pó
Oh, meu santo Pe. Macário tenha dó.
São José das Garruchas é o “ó” –
o “ó do borogodó”!
E a prefeitura é verde roxa
Para enganar mais um trouxa.
E uma loura falsa ora se inflama
Ora se derrama e exclama:
- “Don’t cry for me, Tocantins!”
E a regência trina provisória instalada no paço
Suga-nos até o bagaço, fingindo “administrar”,
Sem ter política que valha, que dê um sinal,
Compram sítios milionários
Com a desculpa de “distrito industrial”.
E o povão na saúde passando mal
E seguem colocando bloquetes
Depois saem em cruzeiro com seus topetes.
Oh, meu santo Pe. Macário tenha dó!
Reza por nós, meu santo querido,
Que a nossa cidade tá tomada de bandido.
A violência é tanta e meu santo amado,
A cidade nem tem delegado.
Estamos todos abandonados.
Eu que não sou boneco de engonço
Sinto até saudade do Mario Alonso.
Tanta coisa que falta pra nóis
E essa "xistosa" escorre
pelas torneiras toda vistosa.
São José das Garruchas é o “ó” –
o “ó do borogodó”!
E a prefeitura é verde roxa
Para enganar mais um trouxa.
E uma falsa loura
ora se inflama,
ora se derrama
e exclama:
- “Don’t cry for me, Tocantins!”
*ouvido nas ruas.
Momento poético
Lá as águas são mais puras e a cachoeira é suave
à esquerda do rio esquece-se da sofreguidão
pode-se colher samambaias e jasmins
pode-se pescar o mais saboroso peixe
das muitas espécies que há por lá.
à esquerda do rio as aves cantam com mais prazer
é melhor a sonoridade de um tom menor de um sabiá
à esquerda do rio o alvoroço das árvores ao vento
nos servem de relaxamento como em nenhum outro lugar
Estou te dizendo isso porque até agora vivi na margem direita do rio
Só, sem ter por que, solto no redemoinho da vida
Do lado direito do rio tudo é amargo e mal. Tudo é triste.
Haverei de te levar até a outra margem
lá terei teu corpo colado ao meu
teu sorriso abrindo o meu
tua alegria expandindo a minha
teus sonhos envolvendo os meus
e colheremos flores e comeremos frutas
e tomaremos banhos ao lado dos peixes encantados,
e ficaremos olhando a correnteza
e depois nos deitaremos na relva como convém aos amantes
e então eu não serei mais o homem triste de antes
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Continho
Arraial da Salvação
Sertão: lado esquerdo do Chico. Uma arraialzinho pobre. Quase abandonado. Era lá que eu morava. O senhor não se assuste, que a estória que vou contar nem sei se é realidade, sonho ou delírio. O sertão nos engana. O tempo parece que não prevalece. Um minuto e a eternidade são a mesma coisa.
Veio numa mula pelo de rato. Era alto, corpulento e barbudo, com o semblante triste. Mãe disse que seria chefe jagunço. Mas as roupas puídas e sem rifles negavam essa importância. Mãe sentiu medo, todos no arraialzinho sentiram, menos eu. Apeou e tomou água do poço de bomba, sedento. E depois, como quem se benze, lavou os cabelos e a barba. Estranhei. Mas fiquei espiando quieto. Ele soltou a mula no largo em frente a igreja e foi se sentar no alto da escadinha e lá ficou ao olhar fixo no cruzeiro que havia no meio do largo. Era a pura solidão.
De repente, vinda de não sei onde, uma figura esquisita, com cachinhos no cabelo, apareceu na frente dele, cheio de mesuras e salamaleques. Bizarrias. De imediato, gostei. E começou a falar para todos do lugar: “ Venham ver como são tolos os românticos! Como são idiotas! Jogam fora toda a vida na espera de amor que não veio, não vem e não nunca virá! Tolinhos.” Enquanto falava suas feições iam se alterando e as risadas assustavam. O barbudo a tudo ouvia quieto. Comecei a sentir medo e também a sentir pena do barbudo.
A figura andou por todas as portas e janelas, convidando os moradores para assistí-la. Meu pai, recém-chegado da lida disse: “É o Cujo!”. A figura se aproximou do homem e começou a falar alto, sátiro: “Sete anos de pastor, jacó serviu labão... blablablá. Tudo é sete: sete dias da Criação, sete cores do arco-íris, sete notas musicais, sete véus... Que patético! Eu posso ser o que eu quiser. Sou todo ilusão. Sim, porque tudo é ilusão. Principalmente este seu sentimento. Ah, pobres românticos! Se tornam estóicos em seu amor e ficam mais tolos ainda.”
O homem que até então estava quieto, começou a cantarolar uma linda canção, e eu pude ouvir o som de acordeon acompanhando-o naquela música que pairou sobre todas as coisas. A figura também se aquietou, estranhoso. Milagre! Parecia que havia um grande músico escondido dentro da igrejinha e o som do acordeon parecia o de um belíssimo órgão, acompanhando o homem. Só depois descobri que havia. Era um grande amigo do barbudo.
Os moradores, encantados com a música, saíram de suas casinhas e foram para o largo. E a figura, vendo que a plateia o aumentava, aproveitou disso. Fez mágicas, estripulias, hipnoses, levitação... e tudo quanto mais podia. Mas quando ele se voltou para o homem, a população perdeu o encanto e se escondeu nas casinhas. Ele disse ao homem: “ Não quero a sua alma, nem quero você, eu quero a sua recuperação mental. É, quero que voltes á razão. Mas você não quer, não é? Você quer passar o resto de vidinha medíocre escrevendo cartas e poemas de amor que ninguém nunca responderá. Lamentável!”
Ficaram ali até altas horas.Lua imensa. De repente o som lindo do instrumento invadiu o arraial com a melodia sentimental. E eu pude ouvir da boca do homem um versinho; “Ó, doce amada, desperta!”.
Na alvorada surgiu um cavalo preto no largo. Veio manso, elegante. Nunca vi animal mais bonito. Árabe. Trazia sobre o lombo uma fina seda cheia de desenhos, e só. Ficou ali, obediente ao homem. E do oriente surgiu um ser estranho vestido dos pés á cabeça e com o rosto todo coberto. Se aproximou do homem, reverente, e disse: “Você me chamou, e eu vim.” Pude ver o sorriso que se abriu nos lábios do homem e o brilho dos olhos dele. Alegria. A figura bizarra desapareceu. Depois o ser tirou toda aquela roupa e se revelou uma moça perfeita, distinta. Se abraçaram ao som de valsa brasileira.
Depois subiram no cavalo, e o animal majestoso, alado, foi cavalgando em direção ao norte. Pégaso.
É por isso que acredito sempre no amor, o senhor me entenda
Minha cidade
Nina,
Deixa eu brincar que você está aqui ao meu lado na pracinha da minha cidade. É manhã de domingo, o sol está claro, Venha, vamos tomar sorvete, ainda tenho umas pratinhas no bolso e dá pelo menos para um. Nós o dividiremos calmamente. Eu sei, você gosta de chocolate. É o meu preferido também. Agora vamos nos sentar.
Repara não, mas minha Tocantins é meio modernosa para uma cidadezinha mineira. Aqui os padrões de arquitetura são bastante duvidosos, e os casarões com beleza e história foram destruídos. Só resta um, onde dormiu a cientista franco-polonesa Marie Curie, no anos 20. Espero que não o derrubem. De bonito ficou a Igreja do Rosário, à sua esquerda, que é uma capelinha singela. Lá dentro há imensas colunas de braúna antigas e ornamentos simples. Atrás dela está a prefeitura, mas sobre isso eu prefiro não lhe falar agora, para não perder meu bom humor.
À sua direita está a Igreja Matriz, uma construção horrorosa que o padre vem tentado organizar, mas está gerando muitas discussões. Uns dizem que parece uma fábrica. E parece mesmo. O curioso é que a igreja matriz fica na praça Mesquita. Ela fica no alto, olhe bem. A rua que dá acesso a ela é a rua Getúlio Vargas, ou” rua dos bancos”, como a chamamos por razões que é fácil deduzir. No início do século passado esta rua era chamada de “a rua do footing", esse anglicismo é uma prova cabal de que o povo da minha terra é metido à besta desde os tempos imemoriais. Nos tempos bons de O Pardal a chamávamos de "rua da lama". Pode rir que é meio tragicômico essa mania de apelidar os lugares. Aqui temos a "rua do brejo", a "sapolãndia" e o "beco do quiabo"
Pois bem, agora olhe para o norte, ali bem a sua frente. Pode rir, é a nossa rodoviária, que deveria entrar para o livro dos recordes como a única rodoviária do mundo que menor que o ônibus. Fazer o quê... E ao sul ... bem, ao sul você está vendo que tem umas casas e um morro e mais nada.
Bom , por que sei onde a posição dos pontos cardeais, você se pergunta. É que por ser versado em cultura inútil, sei que as igrejas antigas tinham a porta principal voltadas para o leste. E também porque o prefeito, num prodígio de paisagismo, mandou colocar um piso aqui na praça com o desenho da rosa-dos-ventos. Ela deve ter sido um pirata em outra encarnação. Sei lá. Só sei que ele tem barbicha, cara de mau e faz tudo o que um pirata faz, acintosamente. O fato é que com este desenho no chão ninguém se perde. Todos sabem que ao sul está a casa da Dona Rute, ao norte o mercado do seu Zé Lindolfo e o bar do Mundico, a oeste a Igreja do Rosário e a leste a papelaria e banca de jornais, onde revistas eróticas são fartamente vendidas. È assim a minha cidadezinha. Ela é meio sem eira nem beira. Mas é minha e eu gosto dela.
O que fazer para mudá-la? Eu sei o que fazer, e farei. Mas agora só eu sei o quanto foi bom desfrutar do sorvete e desta manhã ensolarada com você.
Momento poético
prisioneiros da ambição, da insanidade filipina
Ou são visionários como eu.
Eu estou só neste grande vaso de guerra
preso em alto-mar, na desértica calmaria,
com fome, com frio, com sede, delirando com um porto.
Acendo a quilha, enfeito as velas para ser avistado.
Se no passado sonhei com o porto dos teus braços- e como sonhei!-
agora necessito deles mais do que tudo
mais do que qualquer outra conquista.
Mas talvez tu mesma sejas fruto da minha insanidade
Talvez este meu corpo que está perdendo a juventude
seja mesmo o galeão espanhol que atravessa
a quase inércia da calmaria...
o mar.. o mar... o mar...
Quisera Mariana.
Mariana - minha quimera.
E assim - navegador louco - vou solitariamente
atravessando com dor este imenso mar do meu amor.
Momento poético
Uma prova de amor
Quando me vires pela primeira vez
talvez tu te decepciones.
Talvez a minha idade cause em ti esse sentimento
Talvez minha aparência.
Talvez não seja o momento de nos encontrarmos.
Talvez a minha timidez, minha fraqueza diante das dificuldades da vida
provoque em ti um estranhamento. Talvez...
Talvez a minha visível pobreza material te faça afastar-te de mim.
Talvez por que eu não te traga flores,
nem os presentes necessários a tão esperado encontro.
E nem saiba fazer os carinhos que precisas e anseias.
Não sei.
Talvez nunca saberei porque nunca te encontrarei.
Talvez eu não seja o homem que precisas
e por isso mesmo Deus nos fez distantes.
Mas quero que saibas que te amo tanto
que mesmo com tantas adversidades
vou catando diamantes em ti cada vez que nos falamos.
Momento poético
Quando o trem parar na estação,
Não tenhas medo, entre.
O primeiro vagão está cheio de amargura,
O segundo está cheio de desilusões,
O terceiro está inundado de lágrimas contidas.
Mas, eu te digo: não tenhas medo. Entre!
Nos outros muitos vagões
Estão os espectros de trovadores agoniados,
De menestréis frustrados
Com corações dilacerados
Por amores não correspondidos
Há ainda os que contém a crueza
da luta pela melhoria de vida dos semelhantes,
Essa luta interminável, chamada Ideologia.
Há outros que contem flores murchas
Já quase sem vida e perfume.
Mas há um vagão no fim
Que não contém nada.
Ele é só espaço e negrume.
Não entres neste!
Deixe que seus olhos se acostumem
Assim poderá ver que dentro do vagão
Há um menino sentado
Puro como o lótus no pântano.
Dê a tua mão ao menino
E juntos retornem ao primeiro vagão.
Assim verás o renascer das flores
A alegria dos trovadores e menestréis tornados à vida,
Poderás vislumbrar a melhoria da vida de todos
E uma sonata de Bach
Preenchendo o espaço dos primeiros,
Fazendo desaparecer a amargura, a desilusão e as lágrimas.
E quando olhares para o menino
Não verás mais um menino.
Verás um homem.
Um homem feliz com a tua chegada.